Existem diferentes perspectivas sobre o que se entende por ‘solo’. Sob a perspectiva das Ciências do Solo existem também diversas definições, desde muito sintéticas a muito detalhadas. As que se apresentam a seguir são bastante coincidentes quanto à localização do solo (à superfície da Terra), à sua constituição (muito heterogénea) e ao seu papel vital para os ecossistemas e a biosfera (através das plantas e de outros organismos):

  • É o material não consolidado, mineral ou orgânico, existente à superfície da terra e que serve de meio natural para o crescimento das plantas (SSSA, 2008).
  • (…) é um corpo natural composto de sólidos (minerais e matéria orgânica), líquidos e gases que ocorre à superfície da terra, ocupa espaço e é caracterizado por um ou ambos dos seguintes critérios: tem horizontes, ou camadas, distinguíveis do material inicial em resultado das adições, perdas, transferências e transformações de energia e matéria, ou tem a capacidade para suportar plantas enraizadas em ambiente natural (Soil Survey Staff, 1999, 2014).
  • O solo é geralmente definido como a camada superior da crosta terrestre, formada por partículas minerais, matéria orgânica, água, ar e organismos vivos. O solo constitui a interface entre a terra, o ar e a água e aloja a maior parte da biosfera (COM, 2006a, 231 final, p. 2).
  • Camada superficial da crosta terrestre, transformada pela meteorização e por processos físico-químicos e biológicos. É constituído por partículas minerais, matéria orgânica, água, ar e organismos vivos, organizados em horizontes de génese pedológica (ISO 11074:2005).

Por outro lado, verifica-se maior divergência quanto à definição das fronteiras que delimitam o solo. De entre estas, o limite inferior é o de mais difícil definição. Para fins operacionais, as principais classificações de solos (Soil Taxonomy e WRB) definem a espessura máxima do seu objecto de classificação em 200 cm (IUSS Working Group WRB, 2014; Soil Survey Staff, 2014). No entanto, a importância da relação entre o solo e as plantas (SSSA, 2008; Soil Survey Staff, 1999, 2014) ou entre o solo e a biosfera (COM, 2006), relembra-nos que a fronteira inferior do solo é muito variável e que o limite de 200 cm é apenas uma convenção das classificações de solos. Esta perspectiva mais flexível do limite inferior do solo está expressa no Nº2 do Artº 1º da proposta de Directiva apresentada ao Parlamento Europeu:

  • (…) A presente directiva é aplicável ao solo que forma a camada superior da crosta terrestre situada entre o substrato rochoso (bedrock) e a superfície, com exclusão das águas subterrâneas conforme definidas no n.º 2 do artigo 1.° da Directiva 2000/60/CE do Parlamento Europeu e do Conselho (COM, 2006b, 232 final, p.16).

Também a WRB admite que o solo a classificar pode incluir camadas a mais de 2 m de profundidade se tal for explicitado (IUSS Working Group WRB, 2014).

A ênfase na relação entre o solo e as plantas justifica ainda que na definição de solo sejam incluídos solos submersos até 2.0 m (IUSS Working Group WRB, 2014) ou até 2,5 m de profundidade (Soil Survey Staff, 1999, 2014), dado que podem existir plantas enraizadas em solo alagado até estas profundidades.

Relativamente aos limites superior e laterais, considera-se que o solo forma uma cobertura contínua à superfície da Terra, excepto onde dá lugar a águas profundas, superfícies rochosas, gelos permanentes e areias instáveis (Soil Survey Staff, 1999, 2014). No caso da WRB é adoptada uma interpretação mais abrangente, tendo em vista a classificação de qualquer objecto que faça parte a epiderme da Terra, incluindo neste conceito todos os materiais à superfície da Terra em contacto com a atmosfera, excluindo organismos vivos, áreas com gelo contínuo e águas profundas (IUSS Working Group WRB, 2014).

Recentemente também se alargou o conceito de solo a áreas que apresentam à superfície da terra materiais de origem humana (artefactos), dando origem aos Technosols da WRB (IUSS Working Group WRB, 2006, 2014).

Segundo o Soil Survey Staff (1999) cerca de 4/5 da área emersa da Terra encontra-se revestida com uma cobertura de solos que possibilitam aos seres vivos condições de vida muito mais favoráveis do que no restante 1/5 da área total dos continentes e ilhas, ocupados por superfícies rochosas, gelos permanentes e areias instáveis.

 

Referências:

COM. 2006a. Estratégia temática de protecção do solo. Comunicação da Comissão ao Conselho, ao Parlamento Europeu, ao Comité Económico e Social Europeu e ao Comité das Regiões. COM (2006) 231 final. Bruxelas, 22.9.2006. Consulta em 19/12/2014, em http://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:52006DC0231&from=EN

COM. 2006b. Proposal for a Directive of the European Parliament and of the Council establishing a framework for the protection of soil and amending Directive 2004/35/EC (presented by the Commission). Commission of the European Communities. COM (2006) 232 final. Brussels, 22.9.2006.Consulta em 19/12/2014, em http://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:52006PC0232&from=EN

ISO, 2005. Soil quality — Vocabulary. ISO 11074:2005(en). https://www.iso.org/obp/ui/#iso:std:iso:11074:ed-1:v1:en

IUSS Working Group WRB. 2006. World Reference Base for Soil Resources 2006. World Soil Resources Reports No. 103. FAO, Rome, pp. 128.

IUSS Working Group WRB. 2014. World Reference Base for Soil Resources 2014. International soil classification system for naming soils and creating legends for soil maps. World Soil Resources Reports No. 106. FAO, Rome, pp. 181. Consulta em 19/12/2014, em http://www.fao.org/3/a-i3794e.pdf

Soil Survey Staff. 1999. Soil Taxonomy. A Basic System of Soil Classification for Making and Interpreting Soil Surveys. 2nd edition. Natural Resources Conservation Service, U.S. Department of Agriculture Handbook No. 436, pp. 871. Consulta em 19/12/2014, em http://www.nrcs.usda.gov/Internet/FSE_DOCUMENTS/nrcs142p2_051232.pdf

Soil Survey Staff. 2014. Keys to Soil Taxonomy, 12th ed. Natural Resources Conservation Service, USDA, pp.360. Consulta em 19/12/2014, em http://www.nrcs.usda.gov/wps/PA_NRCSConsumption/download?cid=stelprdb1252094&ext=pdf

SSSA. 2008. Glossary of Soil Science Terms 2008. Soil Science Society of America, Inc.. Madison. Consulta em 19/12/2014, em https://www.soils.org/publications/soils-glossary